Sociolinguística

por Andressa LIberato, Joana Queiroz, Matheus Oliveira, Polynny Torres e Thauan Ícaro

O que é sociolinguística?

É uma corrente teórica da Linguística que tem como objetivo estudar a língua como um fator social, focando suas pesquisas em variação e mudança linguística, contato linguístico, língua como um caráter heterogêneo e outras teorias que relacionam a língua com a sociedade. Embora já existissem teorias sociolinguísticas no início do século XX, os estudos da área foram melhor investigados a partir dos anos 50. A Sociolinguística é dividida em algumas áreas como a Sociolinguística Variacionista, a Sociolinguística Interacional e a Sociolinguística Educacional, as quais William Labov, John J. Gumperz e Stella Maris Bortoni-Ricardo se destacam como teóricos das áreas, respectivamente.


Sociolinguística variacionista 

William Labov 

Inicialmente, William Labov fundou os estudos variacionistas da Sociolinguística. Este subtipo procura estudar padrões de variação da língua na sociedade, utilizando o método de análise quantitativo.

Os estudos primordiais foram dos ditongos na ilha de Martha's Vineyard e o estudo sobre a realização do /R/ na cidade de Nova Iorque. Ao realizar seus estudos na ilha, Labov concluiu que, mesmo em um lugar com poucos habitantes, aproximadamente 5.500, havia variação: as pessoas de Ilha Alta falavam de forma diferente das que moravam em Ilha Baixa. Já em Nova Iorque, ele fez suas pesquisas em algumas lojas de departamento, que variavam de acordo com seu prestígio (valores dos produtos). Ainda que estivessem no mesmo lugar, Labov detectou diferenças no modo como as pessoas falavam.

A Sociolinguística Variacionista analisa fatores como: classe socioeconômica, faixa etária, gênero, grupo étnico, lugar de origem, grupo geracional, escolarização e redes de relações sociais, além de outros fatores externos. O conhecimento de comunidades de fala é importante nessa abordagem, uma vez que a língua é objeto de estudo, sendo observada e analisada em situações do cotidiano. Uma comunidade de fala é caracterizada não pelo fato de todos as pessoas falarem do mesmo modo, mas por indivíduos que se comunicam de forma diferente, constituindo uma norma linguística.

Para os estruturalistas, um sistema linguístico ideal seria repleto de regras sem exceções, isto é, todos as pessoas falariam de modo uniforme. Entretanto, é notório que o sistema linguístico real é orientado por regras variáveis, que são empregadas conforme o ambiente linguístico e/ou social.



Sociolinguística interacional

A sociolinguística interacional é uma vertente da linguística, que estuda a língua em seu contexto social, levando em conta o momento histórico, a relação intercultural e o cenário social e econômico dos interlocutores. A análise proposta pela sociolinguística interacional vai além do reconhecimento de estruturas formais como a fonologia e gramática, leva em conta também a observação do contexto, da variedade linguística, da prosódia e da cultura.

Previamente à sociolinguística interacional, as pesquisas linguísticas voltadas às interações não possuíam modelo, nem área de estudos bem definida, o que só veio mudar com as pesquisas de John J. Gumperz, um sociólogo e professor da Universidade de Michigan, e seus trabalhos, Directions in Sociolinguistics, Discourse Strategies e Language and Social Identity que correlacionam o discurso com a cultura e a sociedade dos falantes da língua e definiram o campo de estudo da sociologia interacional. A pesquisa de Gumperz tinha como base, observações etnográficas que revelavam que o significado das expressões não estão relacionadas apenas às palavras ditas, mas também a aspectos, como a prosódia, pronúncia e organização dos diálogos.

Gumperz utiliza-se de um conceito que foi, inicialmente, elaborado por Goffman: o "frame", que seria a atividade de interação entre os falantes. Junto dele, existem também outras duas ideias: "script" e "alinhamento". A primeira se refere à situação em que os oradores estão inseridos e a segunda ao papel que eles irão assumir na interação. As "schematas", por sua vez, seriam as estruturas pré-determinadas por estereótipos, que definiriam os papéis dos "atores" no cenário interativo, como o modo de se comportar em uma sala de aula ou em um tribunal. Goffman, em seu trabalho Frame Analysis, afirma que tais estruturas, também chamadas de expectativas, são determinadas pela cultura em que a interação está inserida. Logo, a expectativa de como um aluno deve agir em sala de aula no Brasil, não será a mesma da de um aluno no Japão.

Foi Gumperz também quem afirmou que a falha na comunicação existe quando um enunciado não é compreendido pelo receptor ou é mal compreendido, alegando que a capacidade de interpretação é apreendida com o tempo, através da experimentação de situações comunicativas. Ele também diz que, para uma interação eficiente, é necessário que os interlocutores estejam situados no mesmo contexto e cientes daquilo sobre o que se fala. 

Erving Goffman 

Tal trabalho, por sua vez, baseia-se nos conceitos discutidos por Erving Goffman que foi um sociólogo e escritor canadense, conhecido por suas muitas contribuições para os estudos na área da interação social. Seus estudos serviram de base para muitos sociolinguísticas interacionais, incluindo Gumperz.

Goffman era um observador das estruturas e convenções sociais. Não à toa desenvolveu ensaios sobre a construção do eu e as particularidades da vida em sociedade. Em seu trabalho A Representação do Eu na Vida Cotidiana, desenvolve o conceito de que a vida e a sociedade seriam parte de uma grande peça de teatro, onde cada indivíduo assume um papel em diferentes "cenas" que fariam referência às diferentes situações e contextos em que uma interação pode acontecer.


Sociolinguística educacional 

A sociolinguística educacional consiste em aplicar os ensinos da língua respeitando as variedades linguísticas e combatendo o preconceito linguístico na escola. Essa subárea da sociolinguística tem como objetivo esclarecer que a ideia do falar certo ou errado não existe, contudo, existe a adaptação da língua conforme o contexto em que é utilizada. Na sala de aula é comum que haja variações linguísticas usadas pelos alunos e professores. A classe social é um grande fator de diferenciação na linguagem manipulada por cada um, dessa maneira, professores têm o papel de desenvolver práticas e atividades linguísticas que incluam alunos de classes sociais menos favorecidas, fazendo com que eles não se sintam distantes da linguagem usada no ambiente escolar.

Stella Maris Bartoni-Ricardo, principal representante da sociolinguística educacional no Brasil, em um de seus livros Educação em língua materna: a sociolinguística na sala de aula, critica a forma como o erro gramatical é tratado na sala de aula sendo a forma não ideal de abordar o ensino da língua. Ela afirma que ao invés de trabalhar o erro é mais correto abordar as diversas possibilidades na língua.


Referências

Academic State. IN MEMORIAM JOHN JOSEPH GUMPERZ. Disponível em:<https://senate.universityofcalifornia.edu/_files/inmemoriam/html/JohnJosephGumperz.html> Acesso em 14 set. 2020. 

BOTORNI-RICARDO, S.M. Educação em Língua Materna: A sociolinguística em Sala de Aula. São Paulo: Parábola, 2004

COELHO, Izete Lehmkuhl. SOCIOLINGUÍSTICA. Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC: 2010. Disponível em: <https://petletras.paginas.ufsc.br/files/2016/10/Livro-Texto-_Sociolingu%C3%ADstica_UFSC.pdf> Acesso em: 11 de setembro de 2020.

ERVING GOFFMAN. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2020. Disponível em:<https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Erving_Goffman&oldid=59128406>. Acesso em: 14 set. 2020.

LABOV, William. Padrões Sociolinguísticos. São Paulo: Parábola, 2008.

LEITE, Jan Edson Rodrigues. SOCIOLINGUÍSTICA INTERACIONAL: E A VARIABILIDADE CULTURAL DA SALA DE AULA. 1. ed. rev. João Pessoa, Paraíba: EDITORA UNIVERSITÁRIA/UFPB, 2011. 184 p. v. 7. ISBN 978-85-7745-791-5. Disponível em: <https://www.researchgate.net/publication/311292177_Sociolinguistica_interacional_e_a_variabilidade_cultural_da_sala_de_aula>. Acesso em: 14 set. 2020.

LIMA, Geralda de Oliveira Santos. Sociolinguística / Geralda de Oliveira Santos Lima, Raquel Meister Ko Freitag - São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe, CESAD, 2010. Disponível em:<https://www.cesadufs.com.br/ORBI/public/uploadCatalago/18534816022012Sociolinguistica_Aula_3.pdf> Acesso em: 15 set. 2020.

LOPES, Maria A.F. & CAVALCANTE, Maria A.S. A IMPORTÂNCIA DA SOCIOLINGUÍSTICA EDUCACIONAL: Reflexões sobre o ensino de língua Portuguesa. Alagoas, 2018

MOLLICA, Maria Cecilia; BRAGA, Maria Luiza (2013). Introdução à Sociolinguística: o tratamento da variação. São Paulo: Contexto. 

NÓBREGA, D. G. A. Pragmática e sociolinguística interacional: contribuições para a formação de professor em línguas materna e estrangeiras. In: SOUZA, F. M., and ARANHA, S. D. G., orgs. Interculturalidade, linguagens e formação de professores. Campina Grande: EDUEPB, 2016, p. 49-65. Ensino e aprendizagem collection, vol. 2. Disponível em: <https://books.scielo.org/id/qbsd6/pdf/souza-9788578793470-05.pdf> Acesso em: 14 set. 2020.


Universidade Federal do Ceará - Departamento de Letras Vernáculas - Introdução à Linguística - 2020
Desenvolvido por Webnode
Crie seu site grátis! Este site foi criado com Webnode. Crie um grátis para você também! Comece agora