Jacob Grimm

por Eduardo Marques, Gabriela Morais, Isabely da Paz, Laura Meneses e Victória Fabrício

Jacob Grimm nascido em 1785, na região atualmente conhecida como Alemanha, foi de extrema importância para o crescimento de estudos acerca da Linguística no começo do século XIX, e é considerado o pioneiro da Linguística Histórica (um ramo da Linguística Comparativa).

Biografia

(4 de janeiro de 1785 - 20 de setembro de 1863)

By Siegmund Friedlaender - Universitäts Kassel, Public Domain
By Siegmund Friedlaender - Universitäts Kassel, Public Domain

Jacob Ludwig Carl Grimm nasceu no dia 04 de janeiro de 1785, em Hanau, Berlim; filho do jurista Philipp Grimm e de Dorothea Zimmer Grimm. Jacob tinha duas irmãs e seis irmãos - dos quais três não resistiram ao primeiro ano de vida - e era o segundo mais velho.

Aos seis anos de idade, mudou-se para o vilarejo de Steinau an der Straße, e começou a ser alfabetizado em casa por professores particulares e a receber instruções rigorosas como cristãos reformados (calvinistas), que o levou a manter a fé religiosa pelo longo de sua vida.

Aos onze anos, Jacob perde seu pai, vítima de pneumonia, e com isso a sua família passou por uma grande dificuldade financeira, que fez com que ele tivesse que adquirir responsabilidades de adulto, já que era o filho mais velho vivo.

Dois anos depois, ele e a sua família se mudam para Kassel, no então Reino da Prússia, atual Alemanha, onde foi matriculado na instituição Friedrichsgymnasium Kassel, graças a sua tia que se dispôs a arcar com os custos do ensino dele e do seu irmão Wilhelm. Em Kassel era evidente para os irmãos que os alunos com melhores condições recebiam mais atenção dos seus professores. Mas mesmo assim, Jacob e seu irmão (um ano após ele) se formaram.

Em 1802 Jacob foi para Marburg, onde se dedicou a estudar direito, mas foi pelas palestras de Friedrich Karl von Savigny que ele começou a entender o que significava estudar qualquer ciência e que despertou no mesmo a paixão pela investigação histórica e antiquaria que é a base de toda a sua obra; e depois dos dois se conhecerem pessoalmente, na biblioteca de Savigny, onde Jacob leu as paginas da edição dos cantores de Minn alemães média alta e outros textos antigos de Bodmer, foi quando mais ficou intrigado e ambicioso por adentrar e conhecer os mistérios de sua língua.

Em 1805, Jacob Grimm, passou um tempo em Paris por convite de Savigny, para ajuda-lo com sua obra literária, mas no final do mesmo ano Jacob foi para Kassel, onde estavam sua mãe e seu irmão Wihelm, e continuou seus estudos enquanto trabalhava em um escritório de guerra. Em 1808, ele foi nomeado superintendente da biblioteca particular de Jérôme Bonaparte. Logo após a morte de sua mãe, em 1813 Jacob foi nomeado a secretário da legação. Jacob foi enviado para Paris para exigir a restituição de livros carregados pelos franceses, e também participou do Congresso de Viena como Secretário de Legação, 1814-1815.

Em 1837 Jacob Grimm foi demitido do seu cargo de professor por ter se juntado a um protesto contra a ab-rogação da constituição pelo rei de Hanover, voltando novamente para Kassel onde permaneceu juntamente com seu irmão Wihelm até 1840, neste ano receberam um convite do rei da Prússia para irem até Berlim onde recebeu, juntamente com seu irmão, cátedras e foi eleito membro da Academia de Ciências, onde permaneceu até o fim de sua vida. Morrendo aos 78 anos, em 1863.

By Ludwig Emil Grimm - Städtisches Museum Göttingen, https://www.expedition-grimm.de/de/presse/pressefotos.html, Public Domain, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=1435046
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Trabalho Linguístico

Estudos Linguísticos: 

Jacob Grimm foi um relevante linguístico da época denominada estudos pré-saussurianos. Suas pesquisas influenciaram bastante o curso da Linguística no início do século XIX.
Em "Pequena História da Linguística", Robins cita a importância de ser considerado o momento histórico em que os linguistas iniciais estavam inseridos.

Contexto histórico:

Grimm nasceu em um reino desunificado que ainda não era a Alemanha, fragmentado em 39 estados. Sua economia, cultura e desenvolvimento estava sempre a um passo atrás dos demais países europeus, sendo considerado sem "literatura" e "iletrados". Nas poucas manifestações artísticas que existiam eram desvalorizadas. A influência de outros países era tanto que os nobres falavam francês e, segundo Carpeaux, franceses viam o alemão como uma "língua a ser utilizada para falar com criados e com cavalos".

Anos mais tarde, surgiu o "Sturm und Drang" (tempestade e ímpeto), um movimento romântico que buscava a libertação alemã da influência do iluminismo europeu e estéticas greco-romanas. Com o crescimento da corrente do Romantismo, antirracionalista, no final do século XVIII para o começo do século XIX, foi um terreno fértil para o desenvolvimento do sentimento patriota de Jacob Grimm, juntamente com seu irmã. Naquela época os alemães precisavam de uma unidade e amor à pátria. Os irmão Grimm buscavam um resgate das lendas e literatura germânicas, que ficaram mundialmente conhecidos como os "Contos de Grimm" a fim de recuperar a identidade alemã. No entanto, seus estudos não param com obras literárias, por influência de Herder e Schlegel, Jacob começou a se dedicar à filologia, e depois suas pesquisas originaram a primeira gramática alemã. Em seus estudos iniciais, já foi possível constatar um parentesco do sânscrito (língua dos hindus) com o gótico (a língua germânica mais antiga, já datada). Enquanto no mundo seus contos são conhecido pela maioria das pessoas, na Alemanha suas obras linguísticas são mais famosas.

Linguística Histórico-Comparativa:

A linguística comparativa já dá seus primeiros passos no século XVIII com William Jones, que apontou semelhanças existentes entre o latim, sânscrito e grego mas ela veio se desenvolver de fato no século XIX, principalmente na Alemanha, com seus principais representantes sendo Friedrich Schlegel, Franz Bopp e Jacob Grimm. Foi com Jacob que surgiu o ramo histórico, pois diferentemente de seus conterrâneos, ele não se prendeu em apenas mostrar os parentescos entre as línguas, mas também com a evolução delas, com ênfase na germânica.

A Deutsche Grammatik (Gramática Germânica) teve sua primeira publicação em 1819, com foco na morfologia, abordando uma análise do gótico. Já em sua segunda edição, Grimm analisou a evolução e mudança do grupo germânico, formulando as "mutações fonéticas" ("Lautverschiebung"), Com a observação dessas mudanças, pode-se constatar que a maioria apresentava regularidades e se correlacionaram com a família indo-europeia (Grego, latim, sânscrito e eslavo). As mínimas diferenças que existiam nesse processo, eram vistas como exceções, pois em poucos casos aquele sistema regular não funcionava.

A gramática germânica tinha também dois princípios a serem mais abordados:

Ablaut (Apofonia): uma variação sistemática que consiste na troca de tonalidade das vogais devido à evolução da línguas, especialmente nas línguas indo-europeias.

Umlaut (Metafonia): um fenômeno linguístico de alteração do timbre de uma vogal tônica por influência de vogais próximas, o termo diacrítico seria o trema.

"A partir dos estudos de Grimm, ficou claro que a sistematicidade das correspondências entre as línguas tinha a ver com o fluxo histórico e, mais especificamente, com a regularidade dos processos de mudança linguística" (FARACO, 2005, p. 136)

Lei de Grimm:

Contrariamente aos estudos tão somente comparativos, a vertente histórica procura também estabelecer como se deu a evolução das línguas. "Lei de Grimm", ou teoria da "mutação fonética" (Lautverschiebung), foi como ficou conhecido anos mais tarde os estudos que Jacob Grimm, em 1822, reservou em sua gramática para demonstrar certas mutações que ocorreram ao longo do tempo na língua alemã. 

Foi na segunda edição da Deutsche Grammatik, considerada a mais importante para os estudos linguísticos, que Grimm direcionou sua atenção ao desenvolvimento fonético do grupo germânico. Priorizando esse grupo, observou que as mudanças consonantais pelas quais passavam as línguas germânicas em diferentes estados históricos eram regulares e tinham relação com outras línguas da posteriormente chamada "família indoeuropeia" (ROCHA e FARIA, 2018, p. 269). Para constatar essas observações, ele comparou dois estados da língua germânica (o gótico e o alto-alemão antigo) ao grego. Dessa maneira, percebeu que as consoantes do grego p, t e k, que eram originalmente surdas (desvozeadas), no gótico tornaram-se as aspiradas f, th e h, respectivamente.

Ex:

  • A palavra "peixe" no latim é "piscis", mas nas línguas germânicas, como inglês, alemão e iídiche, respectivamente, é "fish", "fisch", "פיש", as três palavras possuindo a mesma pronúncia.

  • A palavra "três" no grego é "τρεις" (t) e no latim "tres", já no inglês, "three" (th)

Após essas alterações apresentadas, Grimm percebeu que também aconteceu, de maneira gradual, mudanças nas consoantes sonoras (vozeadas) b, d e g, para tornarem-se as surdas p, t e k, logo:

FONTE: SILVA, Fernando Silva e; SCHNEIDER, Vítor Jochims. Revista Prolíngua v.11, nº 2, Paraíba, Outubro/Dezembro. 2016.
FONTE: SILVA, Fernando Silva e; SCHNEIDER, Vítor Jochims. Revista Prolíngua v.11, nº 2, Paraíba, Outubro/Dezembro. 2016.

b → p → f

d → t → th

g → k → h





O latim e as línguas germânicas vêm da língua antiga protoindo-europeia. O protoindo-europeu se desmembrou em diferentes grupos linguísticos e entre esses grupos está o das línguas itálicas, como o latim, e também está o das línguas germânicas, como o inglês. As línguas germânicas passaram por essa mudança fonética, ao contrário das línguas itálicas.

A Lei de Grimm não conseguiu explicar algumas exceções e foi completada posteriormente pela Lei de Verner.


Trabalho Literário:

Jacob e Wilhelm Grimm
Jacob e Wilhelm Grimm

Jacob Grimm, junto de seu irmão Wilhelm, iniciou sua obra literária a partir de buscas por histórias que eram contadas oralmente na Alemanha do século XIX, fazendo um compilado destas para, posteriormente, adequar as narrativas ao público. Os irmãos começaram essa coleção com o objetivo principal de estudar a língua e o folclore alemães e restabelecer uma parte da cultura e da história do País, presumindo a aproximação da industrialização e a extinção dos relatos orais comuns transmitidos de geração para geração. Eles publicaram, entre 1812 e 1822, uma coletânea de 100 contos intitulada Kinder Und Hausmärchen, no original em alemão, traduzida para português como "Contos de Grimm".

Popularmente conhecidos como Irmãos Grimm, a importância que eles possuem para a literatura, principalmente infantil, dá-se exatamente pela coleta desses contos populares alemães, que são enquadrados no gênero fantástico por apresentarem personagens e cenários imaginários.

Jacob é responsável, também, por uma das primeiras traduções para a língua alemã da Edda Poética, coletânea de poemas antigos, ecos de uma tradição oral, sobre deuses e heróis de tempos passados.

Principais obras individuais de Jacob Grimm:

  • Deutsche Grammatik (Traduzida para o inglês como German Grammar), 4 volumes, 1819, 1826, 1831, 1837.

  • Deutsche Rechtsaltertümer (Traduzida para o inglês como German Legal Antiquities), 1828. 2ª edição, 1854.

  • Deutsche Mythologie (Traduzida para o inglês como German Mythology e Teutonic Mythology), 1835. 2ª edição, 2 volumes, 1844. 3ª edição, 1854.

  • Geschichte der deutschen Sprache (Traduzida para o inglês como History of the German Language), 2 volumes, 1848. 2ª edição, 1853.

  • Deutsches Wörterbuch (Dicionário alemão), projeto que foi iniciado em 1838, só foi finalizado após a morte dos irmãos. 


Para saber mais...


Referências:

ASHLIMAN, D.L. Grimm Brothers' Home Page. University of Pittsburgh, 2013. Disponível em: < https://www.pitt.edu/~dash/grimm.html>. Acesso em: 12, set. 2020.

AUROUX, Sylvain. A filosofia da linguagem. Trad. José Horta Nunes. Campinas: Editora da Unicamp, 1998.

FARACO, Carlos Alberto. Linguística Histórica: uma introdução ao estudo da história das línguas. São Paulo: Parábola, 2005.

IRMÃOS GRIMM. Wikipédia: a enciclopédia livre, 2020. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Irm%C3%A3os_Grimm>. Acesso em: 4, set. 2020.

LOBATO, Marina Dupré. Língua, Cultura e Identidade: O discurso Romântico-Linguístico dos Irmãos Grimm. Orientadora: Profa. Dra. Mônica Maria Guimarães Savedra. Rio de Janeiro, 2017. Programas de Pós-Graduação do Instituto de Letras da Universidade Federal Fluminense (UFF) - Estudos de Linguagem.

ROBINS, Robert H. Pequena história da Linguística. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1979.

ROCHA, Raul de Carvalho; FARIA, Núbia Rabelo Bakker. Jacob Grimm: Da Exaltação da Língua Alemã à linguística do século XIX. Revista da Anpoll v. 1, nº 45, p. 263-275, Florianópolis, Maio/Agosto. 2018.

SILVA, Fernando Silva e; SCHNEIDER, Vítor Jochims. De 1816 a 1916: Retornar ao passado de Saussure. Revista Prolíngua v. 11, nº 2, p. 92-102, Paraíba, Outubro/Dezembro. 2016.

TATAR, Maria. Contos de fadas: edição comentada & ilustrada. Rio de Janeiro: J. Zahar, 2004.

Universidade Federal do Ceará - Departamento de Letras Vernáculas - Introdução à Linguística - 2020
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