Dionísio da Trácia

por Clara Ximenes, Guilherme Santiago e Nathália Siebra

Dionísio da Trácia

(170- 90a.C) 

Apesar do seu nome, Dionísio nasceu em Alexandria, mas o nome "Trácia" vem da provável origem trácia de seu pai, Tērēs. No ano de 145 a.C, Dionísio mudou-se para Rhodes, na Grécia, onde formou um grupo de gramáticos que transmitiram seus saberes para Roma. Estudioso da escola de Alexandria e responsável pelo desenvolvimento da primeira gramática ocidental, a Tékhne grammatiké.

A escola de Alexandria: Com a dominação da Macedônia sobre o mundo grego, foi durante o chamado período Helenístico que a cultura grega espalhou-se pelo mediterrâneo e oriente próximo. A língua grega tornou-se a língua comum e recebeu influência dos outros idiomas falados. Os alexandrinos dividiam-se em duas posturas linguísticas baseadas nas regularidades e irregularidades de língua: Anomalistas e Analogistas.

A gramática: A Tékhne grammatiké tinha como um dos seus principais objetivos fornecer uma análise textual das obras literárias gregas, por exemplo a Ilíada e a Odisseia de Homero, pois os gramáticos e linguistas alexandrinos consideravam o estudo da linguagem como parte do estudo literário com o objetivo de instruir os povos conquistados, durante a expansão do território grego de Alexandre, o grande, na língua e na cultura grega e devido ao pensamento de que seu intelecto seria superior, os gregos não se interessavam pelas línguas dos outros povos.

Além disso, na sua gramática havia uma maior ênfase na linguagem escrita e culta em detrimento da falada e coloquial, visto que os alexandrinos buscavam transmitir os padrões linguísticos das obras consagradas como modelos da forma correta da língua grega, ignorando as diferenças na oralidade e a evolução da língua grega.

"Os estudiosos alexandrinos estabeleceram o que foi chamado de 'erro clássico' na tradição gramatical, ou seja, privilegiaram a língua escrita dos grandes escritores, avaliando negativamente os demais usos. Concentraram seus estudos na linguagem escrita e ignoraram as diferenças existentes entre o falar e o escrever." (JUNQUEIRA, 2003)

Pode-se observar também uma relação interessante entre a gramática de Dionísio e o estudo filológico, visto que o autor teria criado a gramática como forma de compreensão das grandes obras e autores de sua época.

Ela se dividia nas seguintes seis partes:

- A leitura perita com relação à acentuação e pronúncia correta;

- A explicação com relação aos metáforas poéticas presentes nos textos literários;

- A descrição de palavras anormais e de histórias ;

- O descobrimento da etimologia;

- A exposição da analogia;

- O julgamento dos poemas.

A gramática de Dionísio também nos agregou a primeira descrição sistemática e extensa no estudo da área da morfologia: onde expunha oito partes do discurso como: Nome, verbo, artigo, particípio, advérbio, pronome, preposição e conjunção. No momento publicado, o estudo já era independente da filosofia, onde dava mais importância à flexão do que a sintaxe das palavras gregas. Segundo Pedrosa (2009), Dionísio defina essa partes como:

  • Ónoma (nome): pessoa ou coisa, e possui reflexão de caso.

  • Rhêma (verbo): Atividade ou processo executado ou experimentado, recebe flexão de tempo, pessoa e número.

  • Metoché (particípio): Compartilha características do verbo e do nome.

  • Árthron (artigo): Vem antes ou depois do nome, possui flexão de caso.

  • Antõnymiã (pronome): Parte do discurso que se pode substituir por um nome e que leva a marca de pessoa.

  • Próthesis (preposição): Coloca-se antes de outras palavras no domínio da composição ou da sintaxe.

  • Epirhéma (advérbio): Modifica ou acompanha o verbo.

  • Sýndesmos (conjunção): Funciona como elemento de ligação e ajuda na interpretação dos enunciados



A primeira edição impressa dos manuscritos da gramática foi publicada em 1715 pelo bibliógrafo alemão Johann Albert Fabricius e durante séculos a gramática permaneceu como uma obra básica, contribuindo com ideias sobre conjugação, vozes, tempos verbais e partes do discurso (PEDROSA, 2009). Além disso, a gramática de Dionísio continua, desde de séculos, influenciando a concepção de futuras gramáticas normativas e tradicionais, sendo aplicada à descrição de diversas línguas, que muitas vezes desconsideram a diversidade linguística, estabelecendo a norma-padrão como sendo a forma "correta" de usar a língua, um pensamento herdado das concepções da Grécia Clássica.

"Uma das falhas apontadas para a gramática tradicional é a sistematização dos fatos lingüísticos  dissociados do uso concreto da língua. Ao ignorá-lo, outros aspectos também passam a ser desconsiderados: 1) as diferenças entre as modalidades oral e escrita; 2) a influência do contexto em condicionar o uso das variedades dialetais; 3) a interferência do 'tempo' no processo evolutivo da língua." (JUNQUEIRA, 2003)


Links para aprofundamento:

Vista do Dionísio da Trácia, Arte:

https://www.revistas.usp.br/letrasclassicas/article/view/82556/85531

Tradução da gramática de Dionísio:

https://acervodigital.ufpr.br/bitstream/handle/1884/24818/D%20-%20CHAPANSKI%2c%20GISSELE.pdf?sequence=1&isAllowed=y

Sobre a Escola de Alexandria:

https://www.descobriregipto.com/antiga-escola-de-alexandria/

Imagem de fundo: Rhodes, onde Dionísio passou boa parte de sua vida:

https://commons.m.wikimedia.org/wiki/Rhodes#/media/File%3ABreydenbach_Rodis_1486_(1st_German_edition).jpg

Imagem ilustrada: Tekhne Grammatike, tradução de Thomas Davidson

https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/9/9a/Dionysius_Thrax._Grammar._Davidson._1874._Portada.jpg

Vídeo informativo sobre o período helenístico: https://www.youtube.com/watch?v=VKBzGRepW8U

Vídeo sobre a Biblioteca da Escola de Alexandria: 

Referências e fontes:

PEDROSA, Cleide Emília Faye. História da ciência linguística: Grécia. Aula 12. São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe, CESAD, 2009. Disponível em:https://www.cesadufs.com.br/ORBI/public/uploadCatalago/12473703042012Linguistica_Aula_12.pdf. Acesso em: 2 set. 2020.

SILVA, Flávia Santos da. Tékhne grammatiké: alguns apontamentos. Uberlândia: Revista Primordium, v.3, n.6 jul./dez, 2018. Disponível em: https://www.seer.ufu.br/index.php/primordium/article/view/42588. Acesso em: 2 set. 2020.

GURPILHARES, Marlene Silva Sardinha. As bases filosóficas da gramática normativa: uma abordagem histórica. São Paulo: Revista Janus, v.1, n.1, 2004. Disponível em: https://unifatea.com.br/seer3/index.php/Janus/article/view/104. Acesso em: 2 set. 2020.

JUNQUEIRA, Fernanda Gomes Coelho. A gramática em questão: conceitos, história e ensino. In: Confronto de vozes discursivas no contexto escolar: percepções sobre o ensino de gramática na língua portuguesa. PUC-Rio de Janeiro, 2003. p. 47-60. Disponível em: https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/4009/4009_4.PDF. Acesso em: 2 set. 2020.

TRÁCIA, Dionísio da. Dionísio da Trácia, Arte. Marcos Martinho (Trad.) Revista LETRAS CLÁSSICAS, n. 11, p. 153-179, 2007. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/letrasclassicas/article/view/82556/85531. Acesso em: 29 set. 2020.

AULA 1-A GRAMÁTICA EM QUESTÃO: HISTÓRIA, CONCEITOS E ENSINO, Ariana de carvalho: https://grad.letras.ufmg.br/arquivos/monitoria/aula%201-%20a%20gramatica%20em%20quest%C3%A3o.pdf. Acesso em: 04 out. 2020



Universidade Federal do Ceará - Departamento de Letras Vernáculas - Introdução à Linguística - 2020
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